quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Foca ,Vinícius de Moraes .


Quer ver a foca

Ficar feliz?
É por uma bola

No seu nariz.


Quer ver a foca

Bater palminha?
É dar a ela

Uma sardinha.


Quer ver a foca

Fazer uma briga?
É espetar ela

Bem na barriga

As Abelhas, Vinícius de Moraes.



A AAAAAAAbelha mestra

E aaaaaaas abelhinhas

Estão tooooooodas prontinhas

Pra iiiiiiir para a festa.


Num zune que zune

Lá vão pro jardim

Brincar com a cravina

Valsar com o jasmim.


Da rosa pro cravo

Do cravo pra rosa

Da rosa pro favo

Volta pro cravo.


Venham ver como dão mel

As abelhinhas do céu

O Marimbondo ,Vinícius de Moraes


Marimbondo furibundo

Vai mordendo meio mundo

Cuidado com o marimbondo

Que esse bicho morde fundo!
- Eta bicho danado!


Marimbondô

De chocolat

Saia daqui

Sem me morder

Senão eu dou

Uma paulada

Bem na cabeça

De você.
- Eta bicho danado!


Marimbondo . . . nem te ligo!


O Peru ,Vinícius de Moraes .


Glu! Glu! Glu!

Abram alas pro Peru!


O Peru foi a passeio

Pensando que era pavão

Tico-tico riu-se tanto

Que morreu de congestão.


O Peru dança de roda

Numa roda de carvão

Quando acaba fica tonto

De quase cair no chão.


O Peru se viu um dia

Nas águas do ribeirão

Foi-se olhando foi dizendo

Que beleza de pavão!


Glu! Glu! Glu!

Abram alas pro Peru!


A Cachorrinha , Vinícius de Moraes.


Mas que amor de cachorrinha!

Mas que amor de cachorrinha!


Pode haver coisa no mundo

Mais branca, mais bonitinha

Do que a tua barriguinha

Crivada de mamiquinha?

Pode haver coisa no mundo

Mais travessa, mais tontinha

Que esse amor de cachorrinha

Quando vem fazer festinha

Remexendo a traseirinha?

O Leão , Vinícius de Moraes .


Leão! Leão! Leão!

Rugindo como um trovão

Deu um pulo, e era uma vez

Um cabritinho montês.


Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação!


Tua goela é uma fornalha

Teu salto, uma labareda

Tua garra, uma navalha

Cortando a presa na queda.


Leão longe, leão perto

Nas areias do deserto.

Leão alto, sobranceiro

Junto do despenhadeiro.

Leão na caça diurna

Saindo a correr da furna.

Leão! Leão! Leão!

Foi Deus que te fez ou não?


O salto do tigre é rápido

Como o raio; mas não há

Tigre no mundo que escape

Do salto que o Leão dá.

Não conheço quem defronte

O feroz rinoceronte.

Pois bem, se ele vê o Leão

Foge como um furacão.


Leão se esgueirando, à espera

Da passagem de outra fera . . .

Vem o tigre; como um dardo

Cai-lhe em cima o leopardo

E enquanto brigam, tranqüilo

O leão fica olhando aquilo.

Quando se cansam, o Leão

Mata um com cada mão.


Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação!


A Porta ,Vinícius de Moraes .


Eu sou feita de madeira

Madeira, matéria morta

Mas não há coisa no mundo

Mais viva do que uma porta.


Eu abro devagarinho

Pra passar o menininho

Eu abro bem com cuidado

Pra passar o namorado

Eu abro bem prazenteira

Pra passar a cozinheira

Eu abro de sopetão

Pra passar o capitão.


Só não abro pra essa gente

Que diz (a mim bem me importa . . .)

Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.


Eu sou muito inteligente!


Eu fecho a frente da casa

Fecho a frente do quartel

Fecho tudo nesse mundo

Só vivo aberta no céu!

O Elefantinho , Vinícius de Moraes .


Onde vais, elefantinho

Correndo pelo caminho

Assim tão desconsolado?

Andas perdido, bichinho

Espetaste o pé no espinho

Que sentes, pobre coitado?

- Estou com um medo danado

Encontrei um passarinho!


O Pingüim, Vinícius de Moraes.


Bom-dia, Pingüim

Onde vai assim

Com ar apressado?

Eu não sou malvado

Não fique assustado

Com medo de mim.

Eu só gostaria

De dar um tapinha

No seu chapéu de jaca

Ou bem de levinho

Puxar o rabinho

Da sua casaca

O Relógio , Vinícius de Moraes .


Passa, tempo, tic-tac

Tic-tac, passa, hora

Chega logo, tic-tac

Tic-tac, e vai-te embora

Passa, tempo

Bem depressa

Não atrasa

Não demora

Que já estou

Muito cansado

Já perdi

Toda a alegria

De fazer

Meu tic-tac

Dia e noite

Noite e dia

Tic-tac

Tic-tac

Tic-tac . . .

O Girassol , Vinícius de Moraes .


Sempre que o sol

Pinta de anil

Todo o céu

O girassol

Fica um gentil

Carrossel.

O girassol é o carrossel das abelhas.

Pretas e vermelhas

Ali ficam elas

Brincando, fedelhas

Nas pétalas amarelas.

- Vamos brincar de carrossel, pessoal?

- "Roda, roda, carrossel

Roda, roda, rodador

Vai rodando, dando mel

Vai rodando, dando flor"


- Marimbondo não pode ir que é bicho mau!


- Besouro é muito pesado!


- Borboleta tem que fingir de borboleta na

entrada!


- Dona Cigarra fica tocando seu realejo!

- "Roda, roda, carrossel

Gira, gira, girassol

Redondinho como o céu

Marelinho como o sol".


E o girassol vai girando dia afora . . .



O Mosquito , Vinícius de Moraes.


A casa , Vinícius de Moraes


Era uma casa

Muito engraçada

Não tinha teto

Não tinha nada

Ninguém podia

Entrar nela não

Porque na casa

Não tinha chão

Ninguém podia

Dormir na rede

Porque na casa

Não tinha parede

Ninguém podia

Fazer pipi

Porque penico

Não tinha ali

Mas era feita

Com muito esmero

Na Rua dos Bobos

Número Zero

Biografia de Vinícius de Moraes


                  

Vinicius de Moraes (19 de outubro de 1913 - 9 de julho de 1980) foi um diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro.

Poeta essencialmente lírico, o poetinha (como ficou conhecido) notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida.

Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.

Vinicius nasceu em 1913 no bairro da Gávea, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violonista amador, e Lidia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, no Botafogo, para terminar o curso primário. 

Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos depois, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.

Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos depois, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.

No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE). No ano seguinte, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.

Além da carreira diplomática, de onde atuou até o final de 1968, Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.

Nos anos 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia 9 de julho, Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreria pela manhã.